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domingo, 25 de agosto de 2013

Ilha das Flores, uma hipnose marxista em formato de curta-metragem

Ilha das Flores é um curta-metragem de cerca de 10 minutos, escrito e dirigido, em 1989, pelo cineasta Jorge Furtado, do qual a Wikipedia afirma se tratar de um “documentário”. Durante os anos 90, e mesmo na primeira década do século XXI, essa peça audiovisual foi amplamente exibida para estudantes em todo o Brasil, sobretudo na rede particular. Não que o MEC tivesse obrigado os professores a fazê-lo. Nem era preciso. A essa altura, os professores do sistema de ensino brasileiro já estavam devidamente doutrinados pelo marxismo cultural. A ideia de “ser intelectual” era maciçamente vinculada à ideia de “possuir um ponto de vista de esquerda”. Assim, a cada ano letivo, um professor (de História, Geografia ou Técnicas de Redação), no afã de "intelectualizar" seus pupilos, se encarregava de apresentar o vídeo como material didático. 

Ainda hoje, esse filme é amplamente exibido. Se você é estudante do ensino médio, ou faz alguma faculdade na área de Ciências Humanas, é provável que já o tenha visto pelo menos uma vez em sala de aula, ou quando pouco, que o professor tenha passado o vídeo como material paradidático, ou pelo menos tê-lo indicado de forma casual. Caso ainda não tenha visto, veja-o. Comento depois.






Em termos de linguagem cinematográfica, o vídeo é simplesmente genial, com um roteiro magistralmente bem construído. A primeira imagem que aparece na tela é o aviso “Este não é um filme de ficção”, ao som de “O Guarani”. A narrativa, que começa mostrando um produtor de tomate (apresentado como “um ser humano”), conta a história de um simples tomate que foi jogado no lixo. A linguagem desenvolvida no vídeo flerta com o humor ao fazer uso do recurso de explicitar definições de ideias simples (“ser humano”, “tomate”, “dinheiro” etc). 

A repetição reforça a ideia de que os seres humanos se diferenciam dos outros animais por possuírem um “telencefálo altamente desenvolvido e um polegar opositor”, em um divertido jogo de conceitos. O resultado foi tão bom, que ainda hoje influencia diversos tipos de peças audiovisuais, desde trabalhos de estudantes de graduação, passando por tapes publicitários e até mesmo obras televisivas: a abertura do episódio piloto da série “Pé na Cova”, que é escrita por Miguel Falabela e exibida pela Rede Globo, plagiou “Ilha das Fores” de forma escancarada.

Mas, se a linguagem é inovadora, inusitada, divertida, ágil, ao gosto de jovens acostumados com edições rápidas ao estilo dos videoclipes musicais, o que pode ser dito sobre o conteúdo, sobre a mensagem em si? A partir da metade do vídeo a narrativa chega ao lugar chamado “Ilha das Flores”, que é, na verdade, uma região que abriga moradores e também um lixão a céu aberto. A narrativa informa que alguns seres humanos estariam abaixo de porcos na escala de prioridade na escolha de alimentos, por não possuírem DONO. 

Ou seja, foi construída um mecanismo semiótico habilíssimo para criticar a livre iniciativa, atribuindo a ela as mazelas do mundo. Esse é um exemplo típico da astúcia e do domínio da linguagem publicitária que foi responsável pela hegemonia cultural a qual a esquerda alcançou hoje. Perceba que o vídeo não cita de forma direta ideias como “capitalismo”, “mais-valia” ou “guerra de classes”, mas se baseia nelas para que o expectador infira por si mesmo a necessidade da presença de um Estado capaz de controlar a livre-iniciativa afim que evitar que pessoas “sem DONO” passem pelas dificuldades dos moradores de “Ilha das Flores”.

O curta termina com uma definição de liberdade (“Uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”) fechando finalmente o sentido da mensagem que construiu desde seu início: alguém só pode ser “realmente livre”, se tiver "um dono". Tal ideia é obviamente um paradoxo, já que a definição mesma de escravo é “aquele que não tem propriedade sobre si” e resta evidente que ter um dono é não ter propriedade sobre si.

É através da aplicação da dialética, afirmando um pensamento que é claramente um curto-circuito lógico, que o discurso de “Ilha das Flores” se impõe ao expectador (Na obra “1984”, George Orwell já denunciava a dialética marxista na antológica frase: “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”). Contudo, é importante notar que, dada o alcance e a profundidade da influência do vídeo, não há nenhuma dúvida de que ele cumpriu o papel para o qual ele foi criado com precisão cirúrgica: usar o brilho do hábil domínio da edição e das técnicas de narrativa em formato áudio visual para obliterar a contradição mais evidente no pensamento marxista (explicitada pela célebre frase de Orwell), seduzindo, sobretudo, aqueles em idade de formação escolar a adotarem uma postura de aversão à liberdade com o objetivo se se tornarem “livres”.